foto: Marcelo Camargo
Primeiro caso desde 2006 de cólera autóctone, ou seja, transmitida no Brasil, foi divulgado pelo Ministério da Saúde na última sexta-feira (19)
O Ministério da Saúde confirmou nessa sexta-feira (19) o primeiro caso de cólera autóctone no Brasil desde 2006. A doença transmitida, principalmente, em locais com baixo ou nenhum saneamento básico era considerada erradicada no país. Após tanto tempo, o que pode ter acontecido para a cólera voltar a ser transmitida no Brasil?
Conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2024, já foram registrados surtos ou casos da cólera em 31 países – esse aspecto pode ter contribuído para o primeiro diagnóstico autóctone da doença. Segundo a infectologista Raquel Bandeira, coordenadora do serviço de controle de infecção hospitalar do Hospital Universitário Ciências Medicas, a hipótese provável é de que, como 75% dos casos são assintomáticos, alguém pode ter vindo de algum dos países onde a ocorrência da cólera e trazido a bactéria causadora da doença para o Brasil.
“Existe a possibilidade de algum paciente ou oriundo dessas regiões onde já se existem os casos de Cólera tenha vindo para o Brasil. E a bactéria achou os meios de transmissão através do encontro de um ambiente propício. Por isso tivemos a introdução desse caso no Brasil”, explica.
Apesar da doença ter sido notificada três vezes no Brasil, em 2006, 2011 e 2016, quando ainda era considerada erradicada, ambos os casos foram importados, ou seja, os pacientes vinham de fora, mas receberam o diagnóstico no país. A grande diferença é que no caso divulgado nessa sexta-feira (19) é que é um caso autóctone. “É o diagnóstico de um indivíduo que não tem histórico de deslocamento para países com ocorrência de casos confirmados, e não possuem contato com outro caso suspeito ou confirmado da doença. O que significa que ele pegou a cólera no Brasil”, esclarece a especialista.
E agora? O que deve ser feito?
Bandeira aponta que, no caso divulgado pelo Ministério da Saúde, o homem de 60 anos foi diagnosticado em março desse ano e, caso ele seja o paciente fonte, ou seja, aquele que transmitiria a doença para outras pessoas, ele já não estaria contaminando desde o dia 10 de abril.
“Nesse caso específico é um homem de 60 anos diagnosticado com a cólera em março de 2024. Considerando o período de transmissão que é de 1 a 10 dias após a infecção, e se consideramos no máximo até 20 dias considerando um cenário epidemiológico pior, não há transmissão por esse paciente fonte desde o dia 10 de Abril. Então, por esse caso, não há um risco de ter um surto de cólera no Brasil”, diz
Contudo, a especialista destaca que podem existir indivíduos que estão infectados, mas estão assintomáticos e que estariam transmitindo a doença. “Se na cadeia epidemiológica alguém começar a ter os sintomas, aí a gente pode conseguir detectar novos casos. Por isso, que agora é um período de vigilância epidemiológica onde diarreias da região suspeitas devem ser investigadas para uma possível infecção pela cólera”, pontua.
O que é a cólera?
O infectologista Cristiano Galvão, da Oncoclínicas, explica que a cólera é uma doença bacteriana, transmitida principalmente por água e alimentos contaminados. A doença é causada por uma toxina liberada pela bactéria Vibrio cholerae. A substância se liga às paredes intestinais, alterando o fluxo de sódio e cloreto do organismo, o que faz com que o corpo libere grandes quantidades de água em forma de diarreia e vômito.
Cólera mata?
“(A cólera) causa uma alteração na absorção do intestino. Inicialmente ela aparece como uma diarreia leve e vai até casos de diarreias graves, que podem causar uma desidratação que exige internação hospitalar, até com chance de óbito. Então, a cólera é uma doença que tem o potencial de gravidade grande e está relacionada a questão do saneamento básico”, afirma o especialista.
Itatiaia
Fonte terra brasil